Häxan by Benjamin Christensen
Fazendo um levantamento histórico acerca das vivências da Bruxaria no Ocidente, olhando especialmente à Cultura Megalítica e Medieval na Europa, podendo até moldar esta visão aos dias de hoje, encontramos grandes diferenças entre a Bruxa e a Feiticeira.
Como o próprio nome indica a Feiticeira é a pessoa que pratica feitiçaria e, por isso, uma simples feiticeira apenas se baseia na prática de feitiços, não conhecendo os mundos para além do mundo físico, pois todo o seu trabalho dá-se ao nível do seu corpo e com a ajuda de alfaias da arte, como velas, incenso, athame, cálice, caldeirão, entre outros materiais indispensáveis para a ela/ele. Assim sendo a feiticeira quase teatraliza aquilo a que se pode chamar de bruxaria, pois ela conhece os feitiços, sabe como os ritualizar, mas não trabalha com os mundos para além do mundo físico. A feiticeira, desta forma, venera a intervenção divina como uma simples observadora, esperando que a sua adoração vá ao encontro do seu objectivo mágico. O seu percurso é sempre traçado tendo em contra bases religiosas, pois as suas crenças partem de sistemas religiosos que podem até não constar do Paganismo. Portanto, mesmo no Cristianismo podem existir feiticeiras. Não é por outra coisa que podemos conotar a feitiçaria aos actos ritualísticos da magia natural, seja ela com pedras, chás e, principalmente, com ervas. O que conhecemos dos nossos antepassados é uma aproximação a este tipo de magia, onde nos são relatados casos de cura pelas ervas. Obviamente com toda a cristianização que se deu na Europa perdeu-se um grande legado deixado pelas bruxas e feiticeiras medievais, e a inquisição foi o principal motivo para que hoje não se conheçam tão bem as raízes que nos foram deixadas pelos povos primeiros, senhores do Xamanismo. Mas a feitiçaria persistiu devido à facilidade ritualística que ela nos propõe.
A nomeação de “Bruxa” aparece na inquisição, e não era feita qualquer distinção entre as práticas da feitiçaria e da bruxaria visionária, mas essa distinção existe. A Bruxa difere da Feiticeira no ponto mais importante da Arte, que é a prática da Bruxaria por excelência, ou seja, a Bruxa vai para além do mundo físico, pois ela conhece os diferentes planos de existência, trabalha neles e comunga com eles, tendo plena consciência desses diferentes planos e projectando-se neles. Ao contrário da feiticeira, a bruxa não necessita ter como base crenças religiosas, pois os Deuses não são exteriores a si nem ela exterior aos Deuses, encontrando-os na exterioridade infinita das diferentes realidades, seja no plano divino, cósmico, espiritual ou ctónico. A bruxa usa as alfaias que a feiticeira também usa pois são materiais que ajudam no trabalho ritualístico, mas existe uma grande diferença neste aspecto entre as duas. Pode-se até dizer que uma Bruxa com anos de vivência na Arte, com uma grande prática xamânica no seio da Bruxaria, com tempo para deixar germinar todo o seu caminho e toda a sua evolução nos anos da prática da Bruxaria, pode até dispensar alguns materiais no momento ritualístico; já a feiticeira não o pode fazer, senão passaria de tentativa a pura teatralização. Portanto, a bruxa é a pessoa que não é exterior àquilo que pratica, pois o feitiço que se dá pelas mãos da bruxa parte dela, e ela controla-o até ao último detalhe, e nunca um feitiço é praticado sem a noção do que serão as suas consequências, mas o mais importante, nunca um feitiço é praticado sem a noção do que são as suas causas, porque é a Bruxa que cria a causa para esse feitiço, é ela que o controla, e é ela que o faz acontecer, precisamente porque, trabalhando nos diferentes níveis de existência e de consciência, a bruxa sabe o que faz, enquanto a feiticeira espera pela tentativa do que fez.
Obviamente a este tema estão ligados muitos outros aspectos importantes para perceber porque é que a Bruxa trabalha nesses diferentes níveis de existência e consciência, ao contrário da feiticeira, como é o caso das Viagens ao Submundo, o Sabat das Bruxas, onde comungam com os Deuses. A projecção da Bruxa nestes diferentes planos, na Bruxaria extática e visionária, é de certa forma descendente das práticas xamânicas, pois os processos das Viagens ao Submundo e os métodos que usam são semelhantes.
Texto por Carneo
Texto por Carneo