Sempre que pensamos em Oráculos, sejam eles Tarot, Runas, Cartomancia, ou
quaisquer outros, associamos à adivinhação e à prevenção de eventos futuros, de
modo a podermos controlar os acontecimentos nas nossas vidas.O recurso a Oráculos existe desde as Sociedades Antigas, abarcando todas as
funcionalidades já mencionadas, mas abordando, igualmente, questões da terra e
da agricultura, como as colheitas e afins.
Inicialmente, definia-se por Oráculo o sacerdote (ou sacerdotisa) de
um determinado templo das sociedades da época Clássica (Grécia Antiga, por
exemplo), que vivendo apenas para servir o seu templo e Deus (a) cultuado,
entravam em transe e proferiam as palavras dos Deuses pela própria boca. Assim,
o Oráculo era o próprio indivíduo, que
possuído pela Divindade, falava as Suas palavras aos Homens que o procuravam e
que eram traduzidas, no mesmo momento, por outros iniciados do mesmo templo.
Muitas vezes, o próprio solo onde se davam estas consultas nas quais o divino
se comunicava eram considerados também Oráculos,
por serem solos sagrados que recebiam o númen
divino.
Atualmente, designa-se por oráculo um objeto, sempre inanimado, que se
crê ser capaz de obter as leituras dos acontecimentos da vida do consulente (tarot,
runas, cartomancia, borra de café, folhas de chá, pêndulos, etc.), e que apenas não servindo, hoje em dia,
para fins de adivinhação, também proporcionam uma viagem de exploração pelo
self, incrementado a auto-ajuda e o desenvolvimento espiritual.
Porém, ainda hoje, a noção de que o
divino (ou uma forma de sabedoria superior) fala através dos sistemas
oraculares não deixou de existir: na verdade, estes oráculos, apesar de já não
serem obtidos exclusivamente através da consciência transcendida e do verbo
humano por via da “possessão” divina no seu recetáculo de carne e osso, possuem
em si algo de “metafísico”, que permite que as suas mensagens sejam certeiras e
espelhem a realidade de quem os consulta. Eu acredito e defendo que o
Oráculo é o indivíduo que os interpreta, e não o objeto em si.
Acontece que, atualmente, poucos
são os que utilizam os oráculos também com a sua finalidade ritualística, de
prever os resultados de um ritual. Isto é: além da sua função de predição do
futuro e análise do self de quem o
consulta, ele também possui a capacidade de explicar a condução de um
ritual, e se o seu objetivo será devidamente assegurado ou não. Na realidade,
esta falha não é dos sistemas oraculares, mas de quem os lê, que pode
desconhecer a sua utilização no decorrer de um ritual de magia.
No Brasil, por exemplo, o Candomblé
e o sistema oracular de Ifá (Jogo de
Búzios, vulgarmente conhecido) é considerado como afetado nas suas caídas (Odus) pelos Orixás (Deuses da cultura afro-brasileira), e por isso abraçam a
ideia de que o oráculo é a voz das suas divindades em comunicação com o Homem
que procura a sua sabedoria. Ao mesmo tempo, os iniciados também utilizam os
búzios ou as cascas de coco (jogo de
confirmação) para perceberem, nas suas práticas ritualísticas, se o ebó (oferenda) está a ser devidamente
conduzido e a satisfazer a divindade a quem se dirige. A comunicação aqui é tão
metódica que no caso de o Orixá não estar satisfeito, no próprio momento o praticante
sabê-lo-á, e poderá negociar com o divino os termos que o agradam mais.
Em suma, acrescendo à extraordinária
capacidade de adivinhação e ao crescimento do espírito daqueles que o procuram,
é necessário que todo o praticante de magia tenha à disposição e saiba dominar
mais de um sistema oracular, que devem ser claros e objetivos, com os quais se
consiga estabelecer uma relação perfeita, e que permitam sintetizar e elucidar
se o rito a decorrer produzirá os resultados exatos desejados.
Assim, concluo esta pequena
reflexão incentivando que todos aqueles que procurarem a Via Mistérica da Arte Antiga,
saibam honrar, com amor e confiança, os inúmeros contributos dos sistemas
oraculares com os quais se associarem.
Texto por Ignis Spiritum